É noite
É noite
Voei um dia nas asas de um desejo
Simples, singelo, de afagar um rosto
E nesse desejo, como em mar flutuei
Amarras soltas e em nuvens dormi
Preso depois, a outros desejos
Profundos, belos, desejos, enfim
Sonhos feitos, promessas e devaneios
Pressas e calmas, montes e vales
Verdes esperanças, vermelhos receios
Mil cores povoam dias e noites
Voei um dia nas asas de um desejo
Simples singelo, de afagar um rosto
Do rosto surgiu a mão, o colo e o corpo
E dos lábios surgiu o inteiro desejo
Que muda um adeus num até logo
Transforma um instante em momentos
Desejos a prolongar em resto de vida
A vida a rolar lentamente na ausência
A correr nos fugazes momentos
Em que mil cores povoam dias e noites.
Sempre que te tive em meus braços...
Uma luz iluminou a minha vida
Uma súbita alegria fez minha alma cantar
E senti que os meus sonhos estavam prestes a acontecer.
Um mar de amor inundou-me o coração e enfeiticei-me na magia dos teus olhos.
Contaminado pelo teu sorriso que me fez renascer para a vida dancei ao som de violinos festivos vindos da tua voz.
Na tua boca provei o néctar dos deuses e do toque das tuas mãos recebi os raios que inflamaram de louca paixão.
Em teus braços viajei até às estrelas e visitei galáxias da volúpia.
Em teu corpo me perdi numa ida e vinda sem fim.
E na explosão de cores gemidos e odores.
Te fizeste mulher e minha deusa
Perdi meu olhar em tempos
Em folhas que depois rasguei
E navegando em mar aberto
De sorte minha me enconterei
Segui pegadas em brancas areias
Percorri distâncias sem fim
Li almas soltas livres sem peias
Tudo em sonhos escritos por mim
Dos contrastes da vida, pintei
A vida e a loucura da paixão
A solidão e a liberdade te dei
Para longe ruma o meu coração
Ser aquilo que sou e quero ser
Não importa o custo que tem
A chama do amor irá reacender
A vida minha e de outrém
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado da férrea vontade que me impele o ser
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado de não ter e continuar a querer
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado de tentar despestar-te o coração
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado de não ver eco na razão
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado da breve distãncia onde estou
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado daquilo que já nem sou
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado de qualquer lugar pra onde vou
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado do pesadelo e até do sonho
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado de pensar, do pensamento
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado do ter este sentimento
Estou cansado, cansado de mim,
Cansado de viver assim sem ti sem mim
Estou cansado, cansado de mim, estou cansado de mim.
Mas a vida também é feita de cansaços, de despertares, de lutas, de ilusões, cabe-nos gerir a força que nos vem de dentro, de lugares deconhecidos. E é destes lugares remotos que vem o alento de assim ser até morrer.
Há poucas horas atrás, falando de viva voz, com um amigo abordámos o tema que dá o titúlo a este post.
Criamos "fantasmas" dentro de nós, perante situações muito variadas. São os "fantasmas" que nos assolam o pensamento, inibindo o raciocínio lógico e fazendo-nos centrar quase em exclisividade nestes.
E não é fácil libertarmo-nos dessas imagens que atingem proporções de grandeza tal, que algumas nem o tempo conseguirá alguma vez limpar do subconsciente, e vão estar sempre presentes na nossa mente e ao menor estimúlo desencadeiam actos, palavras e um turbilhão de outra coisas.
Alguns de nós recorrem à terapia como forma de ajuda para "limpeza". Nada a criticar, é claro
Outros recorrem à meditação, ao isolamento, tentando encontrar dentro de si o ponto de equilíbrio, aquele "não sei o quê" que todos temos em formato exclusivo e único. Da rapidez com que se encontre esse "não sei o quê" depende a forma como nos libertaremos dos nossos "fantasmas".
Pensamos que com o passar dos anos, com as vivências e experiências, nossas e de outros, adquirir um conhecimento de nós próprios e com extrema facilidade dizemos ou pensamos que temos o controlo de quase todas as situações observadas e afirmamos " se fosse comigo era assim que faria".
O problema residirá no facto de quando elas nos dizem directamente respeito. Aì "outro galo cantará", o nosso, e se pensámos que tinhamos a solução, perante contingência semelhante, mas na "casa/carola" de outrém, não é tão certo que seja aplicável na nossa, não de forma tão linear.
Cada um tem que se libetar dos seus "fantasmas" ou não os deixar tomar forma sequer, ou sujeita-se a processos dolorosos de "libertação" para a vida.
(in "minha carola" - JP) -to JE
Qual criança da pré-primária hoje roubei um beijo, um não, dois e depois vim correndo.
Enquanto corria conservava nos lábios, ainda conservo, o odor de ti, a macieza do teu rosto. Como se fosse preciso um beijo roubado para me lembrar. Ah não, não seria preciso, tal a maneira como estão todos os teus sinais gravados na minha memória em mim dirrei mesmo.
Imagino o infindável número de sensações se tivesse tido a coragem de aflorar os meus lábios aos teus. Veria de perto as estrelas do céu, deslumbrar-me-ia como se fogo de artifício tratasse e quereria sem medo de me queimar tocando-lhe.
Imagino então o universo de sensações se pudesse acariciar-te a face, o cabelo, o corpo inteiro.
Mas como os meninos da escola, apenas me atrevi a beijar-te o rosto. O coração aos pulos pela ousadia, a pele arrepiada e a sensação de frio, a transformar-se em rubor que não te deixei ver.
E assim é, roubar-te um beijo é bálsamo para a alma..