É noite
Renasce em mim esta vontade de partir, calcorrear
sem destino vales e montanhas, segurar nas minhas
mãos a chuva, que me molhará de novo o rosto,
num eterno renovar de frescura.
Renasce em mim a vontade de calcar os pés na lama
da estrada que eu desejo enlameada.
Ah, percebesse eu esta maneira de ser de mim
próprio e tudo tão mais claro seria.
E sorrio, eu sorrio e não sei agora se de mim ou
como noutras vezes para mim.
E tantas são as vezes que sorrio apenas para mim,
mas são de mais as vezes que ninguém me vê as
lágrimas correr quando reconheço que o que eu
pensava ser não fui.
É noite e não tenho a certeza se alguma vez serei
aquilo que agora quero, porque tantas vezes eu nem
sei o que quero ser.
Mas quando o dia renascer eu serei.