Sabes, apetece-me escrever-te!
Mas as palavras não saem, não as consigo fazer escorrer pelos dedos para o teclado.
Estão na minha mente às voltas como se estivessem a ser atiradas de um lado para o outro pela força destruidora de um tornado.
É por isso que as não consigo alinhar, é por isso e pela tua ausência.
Sei que na tua presença me acalmo e as palavras alinham-se e os meus dedos já não correm para as teclas.
Hão-de correr para ti, para as tuas mãos, para a tua face e hei-de envolver-te no meu olhar. Sei que é ele o que primeiro vais desejar, o meu olhar, tal como ele deseja o teu em primeiro lugar.
São eles, os nossos olhares que, como desde o primeiro dia se vão envolver e amar.
Só depois dos olhares se amarem o desejo nos vai invadir. Sabemos isso ambos.
Vai ser como ter tudo e não poder ter nada, nada mesmo. O tempo que quero passe lento quando te olhar e que desesperadamente queria agora que voasse, vai ser tão rápido então, que pressinto já, e ainda não chegaste, vai então voar à velocidades da luz. Por isso é nos olhares que faremos perdurar as imagens e sensações que serão partilhadas. Essa partilha vai ser complexa e simples.
Complexa porque eu quero ver nos teu olhos o prazer que sentes quando olhares isto ou aquilo e simples porque vais olhar as coisas pelos meus olhos, como sempre fizemos.
Mas as palavras não se alinham na tua ausência. Na tua ausência adivinho o quereres estar aqui junto de mim para que possas sentir-me e eu beber as teus menores gesto enfado, os teus suspiros os teus simples desejos, que quero meus para adivinhar e satisfazer. Assim vai ser de mim para ti de ti para mim, ambos sabemos.
E vão as noites para ti ser frias e para mim de sufoco, e frias também. A contradição reside sempre na distância, que tão escassa é depois de chegares, mas quase intransponível.
Mas os olhares, esses vão-se amar e as palavras calar-se-ão e de manhã estarão alinhadas lado a lado.
Vem depressa, quero olhar-te!