Seguiu as suas pegadas leves, na areia branca da praia deserta. Não era preciso levantar o olhar, sabia exactamente onde elas se dirigiam.
Fora acertada a hora e o local.
O local era aquele, numa praia, a hora, o pôr do sol.
Quando a arriba deixou ver mar, viu-a, pés na areia molhada pelo ir e vir da espuma branca das ondas de maré calma naquele fim de tarde ameno, parada olhando o horizonte. O seu cabelo esvoaçava levemente embalado pela ligeira brisa vinda do oceano.
Como que extasiado na deslumbrante imagem dela, esperou parado que ela se voltasse e o visse. A percepção de que era ali o seu porto, havia-o impulsionado, quase voando até aquele encontro.
Calmamente ela voltou-se e sorriu e a distância que ainda os separava ficou reduzida a nada.
Como quem encontra saudoso amigo de longa data ou mesmo amor de vida toda, as mãos de ambos estenderam-se e tocaram-se e depois foram os corpos que se entregaram a um longo e terno abraço.
Ainda sem palavras ditas, ficaram a olhar-se durante um tempo que pareceu uma eternidade, porque pensavam saber antecipadamente o que iriam dizer um ao outro, mas na quela serenidade amena apenas os olhos falaram.
Com o olhar, disseram-se da urgência do toque, do afago na pele suave, do carinhoso afagar do cabelo, do beijo no pescoço, do acelerar da repiração, da excitação do toque das mãos pelo corpo inteiro, da entrega ao desejo até que este fosse saciado.
Num só olhar o mundo girou, o mundo de ambos se transformou . Barreiras ruiram, castelos construidos, pelas pedras que ambos houveram apanhado nos seus caminhos que nunca antes se houveram cruzado.
Caiu a noite, ergueu-se a lua traçando nas águas calmas um caminho até aos milhões de estrelas que brilhavam no firmamento.
E foi nessa praia que se amaram pela primeira vez, corpos unidos, suados, indiferentes à ligeira maresia e uma e outras vezes, paixões em lume aceso com labaredas de gigantesca necessidade, abandonando-se ambos um ao outro.
Em breve o sol nasceu, e a estrada taçada pela lua, em direcção ao firmamento se alargou e o mar que havia sido de prata tornou-se em verde esmeralda.
De mão na mão, de coração com coração, as pegadas, agora lado a lado, foram-se afastando da beira-mar, com a certeza de ali voltar. Tal como a certeza de qua as suas vidas seguiriam para sempre lado a lado com as pegadas deixadas na areia daquela praia.