De sorte, Maria entrou, acolheu o chamamento, o apelo à fuga à solidão.
Devagar, pé-ante-pé, passinhos curtos como quem atravessa a vau um rio sem lhe conhecer os baixios, sem lhe conhecer as correntes, ou as manhas.
Depois, levada pelo suave marulhar das água calmas, deixou-se embalar, despiu um pouco a alma, estendendo sem medo o corpo na tepidez da corrente e fez-se Luisa.
De sorte, à sorte de uma companhia atormentada no momento, foi-lhe dado fragmento duma vida, ao conhecimento.
De sorte soube ler, constrangimento sentiu.
Despiu-se um pouco mais, expondo dor passada, não esquecida certamente, como quem segura o seu próprio livro e o vai folheando para outrém ler, porque crê que o saberá.
De sorte, a sorte sorriu e por breves momentos a solidão partiu.
De sorte.