Nessa noite quente de verão
Como em tantas outras noites
Libertaram-se os sentidos e no calor
Da discussão dos corpos acessos
Sussurro-te ao ouvido
"Amo-te demais para que não me ames ainda mais
Apenas guardo em mim o medo de adorar"
E da minha voz rouca de paixão soltou-se ainda
"Quero que me ames o quanto queiras
O quanto sintas, mas não quero que me adores
E sinto tantas vezes que é isso que fazes
Sinto-o no teu toque, no teu suspiro e sinto-o principalmente no teu olhar
E é desse sentir do olhar que me arrepio
E é nesse momento, em que o teu procura o meu
Em que os teus olhos me trespassam
Em que procuras a minha alma, o meu ser
É nesse momento que eu temo o meu próprio ser
Porque ele, o meu ser, se quer entregar e perder-se de mim"
Tu juntas as palavras, juntas os pedaços de mim
E levas-me e sinto que sem ti jamais serei novamente eu
E é então que me perguntas com ar cândido de entrega
"Estás triste?"
Lâguidamente respondo
"Porque estarei eu triste?
A vida sorri-me na tua forma de mulher"
"Tenho paz agora", respondes e eu pergunto
"Então porque não dormes e me fazes despertar
E despertar-te?"